Museu de Arte Sacra: São Joaquim
03/07/2012
A maior parte das esculturas do museu são do seculo XVII e consideradas como maneiristas. Esta palavra, maneirista, significa exatamente “a maneira de” e fala de um estilo de arte que não se importava com a cópia de uma forma fixa, um modelo, e sim pela impressão de uma característica pessoal ao seu trabalho. A escultura maneirista tem como grande percursor Michelângelo e são os modelos criados pelo pintor, arquiteto e escultor italiano que serão copiados por outros artistas. Seu modelo básico é uma figura serpentinada e triangular, isto quer dizer que ela se baseava cuja linha sinuosa pretendia dar movimento a imagem e no peso maior na parte inferior da imagem do que na parte superior. Em Portugal, o maneirismo começa em 1550, e tem três fases: a inicial, chamada de à maniera italiana; a segunda fase, chamada de Triunfo da Bela Maneira; e uma terceira fase, cuja influência da Reforma Católica se fez sentir, cuja influência flamenga e francesa é bem maior que a italiana.
As esculturas do Museu de Arte Sacra, no entanto, são do período mais tardio do maneirismo português. Feitas em madeira policromada, isto é, colorida, em quase sua totalidade, e com apliques de metais nobres como outro, como podemos ver no exemplo da escultura de São Joaquim. São Joaquim é o pai de Maria, avô de Jesus, cultuado sobretudo pela Igreja Ortodoxa Grega, as referências da Igreja Católica Romana são poucas, dando-se mais atenção a sua esposa Santanna, porém a partir do século XV houve um aumento significativo de seu culto entre os católicos. Vemos na escultura do museu, que ele perdeu uma mão que provavelmente segurava um cajado, como as figuras dele costumam ter. Também vemos que seu joelho se projeta, na tentativa de criar um movimento dando exatamente a forma serpentinada que caracteriza a escultura maneirista.
Pelourinho, na Praça André de Albuquerque
22/05/2012
O Pelourinho é uma coluna de pedra (algumas vezes de madeira, principalmente no início da construção das cidades ou vilas) colocada num lugar público em cuja qual eram punidos e expostos os criminosos. Tinham também direito a pelourinho os grandes donatários, os bispos, os cabidos e os mosteiros, como prova e instrumento de seu poder feudal. Os pelourinhos foram, pelo menos desde finais do século XV, considerados o padrão ou o símbolo da liberdade municipal.
Diz Alexandre Herculano que o termo pelourinho só começa a aparecer no século XVII, em vez do termo picota, de origem popular. Segundo também o historiador português, o pelourinho era uma derivação de costumes antigos como a ereção nas cidades do ius italicum das estátuas de Marsias ou Sileno, símbolos das liberdades municipais na Roma Antiga. Mas outros historiadores remetem para a Columna ou Columna Moenia romana, poste erigido em praça pública no qual os sentenciados eram expostos ao escárnio do povo. Os historiadores portugueses afirma que, a partir do século XV, as execuções nos pelourinhos passam a escassear, alguns inclusive dizem que não há provas que tal sucedesse, pelo menos em relação às execuções capitais, que costumavam fazer na forca depois de ter sido exposto no pelourinho para conhecimento do povo. Porém muitas pequenas cidades e vilas, sobretudo, no Brasil não possuíam forca, além de que a forca, muitas vezes, era reservada para os brancos enquanto os escravos negros e índios restava apenas o pelourinho.
O pelourinho natalense ficava também nos arredores da praça André de Albuquerque. E foi motivo de grandes discussões. Durante os primeiros anos da república, ele foi retirado por representar o poder colonial e “escondido” num sala no Forte dos Reis Magos, porém, graças a um projeto apoiado por Câmara Cascudo, no fim da década de 1940, ele foi reintroduzido na paisagem da praça em um monumento que celebrava a história potiguar, junto com os canhões restantes da fortaleza. Eram as peças mais antigas da história potiguar e, segundo Cascudo, isso deveria ser visto pelos natalenses. Porém na década de 1950, nova reforma, retirou o monumento da praça e foi substituído por uma estela em homenagem aos Mártires de 1817, os mártires da república. O pelourinho potiguar acabou sendo destruído nesta remoção e um monumento em homenagem a libertação de escravos foi colocada no seu lugar original ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.
A Casa da Câmara e Cadeia era o edifício no período colonial e imperial brasileiro, no qual estavam instaladas os órgãos da administração pública municipal. Abrigava os poderes legislativo, o Presidente da Câmara, o Procurador do munício, a Câmara municipal, a Câmara de Vereadores; judiciário, o Juiz de direito, o Tribunal e o Juiz de fora; além da a Milícia e a cadeia pública.
O edifício da Casa de Câmara e Cadeia sempre ficavam no centro da vila ou cidade, no largo do pelourinho ou no chamado rossio. O prédio costumava ter dois pavimentos, um que servia de cadeia e guarda, no térreo, e um superior que continha salas e um plenário para reuniões dos vereadores e para julgamentos. Sua instalação significava sempre um símbolo de poder público.
No entanto com a Constituição de 1824 que repassou a província e não mais ao município os poderes judiciários e de polícia, distribuindo pela cidade novos prédios como tribunais e delegacias, o prédio que servia agora apenas para reuniões da Câmara municipal perdeu importância. Algumas, neste instante, tornaram-se Paço Municipal, abrigando o poder executivo, enquanto outras mantiveram-se somente com o poder legislativo. Porém, boa parte das cidades brasileiras, após a proclamação da república derrubou as suas Casas de Câmara e Cadeia, como aconteceu em Natal. O último prédio natalense, que ficava na Praça André de Albuquerque, é de 7 de maio de 1770 e foi derrubado em 1911. Ele ficava aonde fica hoje a rua João da Mata.
Originalmente foi uma capela primitiva, sem data precisa de fundação, mas sua construção obviamente só pode ter começado após a fundação da cidade. No entanto, a primeira missa realizada na cidade foi feita pelo jesuíta Gaspar de Samperes, o arquiteto responsável pela planta da Fortaleza dos Reis Magos e também da futura Matriz. O projeto de Samperes foi finalmente concluído em 1619, ganhando paredes mais firmes, firmes o bastante para proteger a população durante os ataques holandeses feitos à cidade com a invasão em 1633, período no qual se tornara um templo calvinista, e recuperada depois dos estragos feitos pelas invasões holandesas em 1694. Em 1786 ganhou seu batistério. E somente em 1862 sua atual edificação foi completada com a construção da torre cimeira. No início do século XX, no entanto, sua fachada foi restaurada ganhando elementos ecléticos que na restauração proposta, em 1994-95, pela equipe do arqueólogo Paulo Tadeu de Souza Albuquerque, foram retirados. Os processos de restauração são assim mesmo, é necessário que o restaurador escolha um momento da história do prédio para parar, contudo apesar da exclusão dos elementos ecléticos, outros elementos de camadas mais antigas, como elementos da primeira capela, foram expostos.
Esta igreja é dedicada à padroeira da capital potiguar, Nossa Senhora da Apresentação. Curiosamente a imagem colocada no altar é a de Nossa Senhora do Rosário. Quem conta melhor essa história é Câmara Cascudo. Ele conta que em 21 de novembro de 1753 um grupo de pescadores encontrou um caixote de madeira encalhado nas rochas do Rio Potengi, em frente a atual Pedra do Rosário. Dentro do caixote havia uma imagem de Nossa Senhora do Rosário e a mensagem: “Aonde esta imagem aportar nenhuma desgraça acontecerá”. Os pescadores avisaram ao vigário da cidade, P. Manoel Correia Gomes, que decidiu que como dia 21 de novembro se comemora a festa de apresentação de Nossa Senhora ao templo de Jerusalém a imagem foi batizada como Nossa Senhora da Apresentação e proclamada padroeira da cidade.
A igreja também guarda o túmulo de alguns personagens importantes da história potiguar como André de Albuquerque Maranhão. Você sabe que foi ele?
Durante o mandato do prefeito Sílvio Pedroza, entre 1946 e 1950, Câmara Cascudo era seu secretário de cultura. Foi ideia então deste último comemorar o 350º aniversário da cidade. E entre as festividades, se instalou um monumento quase no centro da praça André de Albuquerque, no local onde ficava o coreto construído por Carvalho Filho. O monumento se constituía do pelourinho da cidade, local em que o próprio André de Albuquerque também perdera sua vida, ladeado por quatro canhões oriundos da Fortaleza dos Reis Magos sob uma base de alvenaria.
Apesar da participação de diversas autoridades na cerimônia de inauguração, o monumento desagradou tanto a Câmara Muncipal como boa parte da elite da sociedade potiguar que via a instalação do pelourinho na praça a rememoração de um passado colonial que não combinava com a cidade republicana que Natal pretendia ser. Cartas foram enviadas ao prefeito, protestando, e Cascudo foi obrigado a intervir, publicando cinco longos artigos nos jornais da cidade em defesa do monumento. No entanto, na década de 1950, o pelourinho foi retirado da praça em nova reforma e uma estela em homenagem aos Mártires de 1817 foi construído no lugar. Este monumento é feito em homenagem aos “heróis republicanos”, aos homens que deram a vida para construir a república que tanto os natalenses se orgulhavam. A oposição clara pela negação do passado colonial e a tentativa de comemorar apenas o passado republicano demonstra uma posição clara em relação as políticas públicas de proteção do patrimônio histórico da cidade durante os anos que se seguiram. Natal se considerava a cidade do futuro, e por isso não precisava se preocupar com o passado.
Fotos: Arthur Freitas